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domingo, 3 de abril de 2011

ENSINANDO E APRENDENDO (por Paulo Souza)

O trabalho na Reserva Indígena Pataxó da Jaqueira está terminando esta semana, projeto que começou há mais ou menos dois anos muito antes de receber o premio Interações Estéticas FUNARTE.  Muitas idas e vindas, quase sempre acompanhadas por Aderno Pataxó ou pelo seu filho Oiti Pataxó (dois grandes artistas e artesãos da aldeia) e sempre, sempre rodeado pelas curiosas crianças (as mais livres e felizes que eu já conheci) e que mais tarde se tornariam meus mais assíduos alunos assistentes. Houve um tempo de aproximação, lenta e persistente, pois eu realmente queria muito fazer alguma coisa que pudesse ter significado real para aquela comunidade, construída com muita luta e muito empenho por três mulheres : Nayara Pataxó, Nitxinawã Pataxó e Jandaya Pataxó, exemplos de persistência, fé, coragem e amor. A vontade de ensinar alguma coisa era apenas em retribuição ao tanto que eu aprendia a cada uma das minhas muitas visitas aquele paraíso incrustado na Mata Atlântica (já um tanto desfigurada pelo progresso).
São quinhentos e onze anos de resistência, mantendo costumes seculares, saberes e fazeres, modos de vida e convivência privilegiando a harmonia numa família onde a criança é educada livre e em equilíbrio com a sua natureza livre.
Esse projeto que começou despretensioso acabou por marcar a volta da prática da cerâmica na comunidade, envolvendo desde a anciã (Dona Takwara) até aos mais novos descendentes.
Pinturas corporais e grafismos saltaram de seus rostos e corpos e gritam em cada peça de cerâmica um grito silencioso de quem sabe exatamente o que dizer e como falar.
Desde a colonização (invasão) sempre houve uma estratégia de dominação contra esse povo que, mesmo maltratados, escravizados e escorraçados de suas terras ainda assim mantiveram suas crenças, suas tradições, sua língua e suas raízes.
Empurrados do litoral para o continente pelo interesse da ocupação do território foram deixando para traz um rastro de línguas, costumes e identidades que não ficaram perdidas, apenas adormecidas como uma semente que espera a hora propícia para brotar com força.
Uma pena quanto está na asa de um pássaro é natureza, quando está na cabeça de um índio é cultura, assim acontece com o barro que vira cerâmica.
Resgatamos um fazer ancestral, quase perdido, esquecido pelo dilema do progresso, pelo avanço do consumo, pelo massacre diário do capitalismo.

Agradeço a todos que participaram direta ou indiretamente da realização deste projeto e aproveito para convidar a todos para a exposição da NOVA CERÂMICA PATAXÓ, que acontecerá neste dia 09/04/2011 no centro de cultura de Porto Seguro a partir das 20h00min horas.
AWÊRY. Paulo Souza.


4 comentários:

  1. oi sou o bani aqui esta o link do documental da jaqueira ,
    http://vimeo.com/21722764

    copie aqui no blog se quizer ,abracao bani silva

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  2. PARABÉNS PAULÃO!
    MUITO BACANA ESSE PROJETO
    VIDA LONGA E SUCESSO PRA VOCÊ E TODA A COMUNIDADE PATAXÓ

    ABRAÇO
    TONINHO

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  3. Que leagal Paulo.
    Parabens pelo trabalho,
    abração,
    Marcelo.

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